Do fluxo do sangue aos cortes da vida em reserva: sangue, ritual e intervenção entre as mulheres Kaiowa e Guarani em MS
DOI:
https://doi.org/10.20435/tellus.v17i33.444Palavras-chave:
sangue, mulheres Kaiowa e Guarani, ritual, redes de relação, intervenção.Resumo
Neste artigo, pretendo abordar a circulação de substâncias, com ênfase no sangue (tuguy), entre as mulheres kaiowa e guarani em Mato Grosso do Sul. Com essa abordagem, é possível pensar uma rede de relações que compõe o corpo e a pessoa kaiowa e guarani, a partir da menstruação como um marcador etário na vida das mulheres e suas relações com as intervenções do Estado. Para isto, valho-me de duas experiências etnográficas. A primeira trata-se de um ritual de primeira menstruação de uma menina kaiowa que pude acompanhar na Terra indígena Panambizinho em Dourados, MS, em 2014; a segunda refere-se a dois acompanhamentos de que participei, enquanto indigenista na Fundação Nacional do Índio (FUNAI), de acolhimento arbitrário de crianças indígenas, um na Reserva de Dourados e outro em Panambizinho. Um dos acompanhamentos tratava-se de uma situação específica em que o estatuto geracional pós-menarca foi questionado pelo Estado, contrariando o discurso dos envolvidos. Dessa forma, a partir da reflexão junto a outros dados etnográficos, etnografias sobre os Kaiowa, Guarani e Mbya e reflexões sobre redes e relações entre os ameríndios, busco analisar essas situações etnográficas apresentadas e colocá-las em conexão para pensar ritual, intervenção e os conhecimentos mobilizados sobre o sangue como caminho para o “feixe de relações” que é o corpo e a pessoa kaiowa e guarani.Referências
AQUINO, Tânia Fátima. Mitã kunha ikoty ñemondy´a: o ritual da menarca no contexto escolar kaiowa da aldeia panambizinho em Dourados, MS. 2017. Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura Intercultural Indígena) – Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), Dourados, MS, 2017.
BELAUNDE, Luisa Elvira. A força dos pensamentos, o fedor do sangue. Hematologia e gênero na Amazônia. Revista de Antropologia, São Paulo, v. 49, n. 1, p. 205-43, jan./jun. 2006.
______. El recuerdo de la luna. Género, sangre y memoria entre los pueblos amazónicos. Lima: Fondo Editorial de la Facultad de Ciencias Sociales, Unidade de Pos Grados de Ciencias Sociales, 2005.
BECKER, Simone. Honras & estratégias: formas de ser mulher no bairro das Flores. 2002. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) – Universidade Federal do Paraná (UFPR), Curitiba, PR, 2002.
CAPIBERIBE, A. Não cutuque a cultura com vara curta: os Palikur e o projeto “Ponte entre povos”. In: CUNHA, M. C. da; CESARINO, P. de N. (Org.). Políticas culturais e povos indígenas. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2015. Cap. 6, p. 165-90.
CHAMORRO, Cândida G. A. Terra madura, yvy araguyje: fundamento da palavra guarani. Dourados, MS: Ed. UFGD, 2009.
______. Kurusu Ñe’ëngatu: palavras que la história no podría olvidar. Assunción: Centro de Estúdios Antropológicos/Instituto Ecumênico de Posgrado/COMIN, 1995.
DAINESE, Graziele; SERAGUZA, Lauriene, BELAUNE, Luisa Elvira Sobre gêneros, arte, sexualidade e a falibilidade destes e de outros conceitos: Entrevista com Luisa Elvira Belaunde Olschewski. Revista Ñanduty, Dourados, MS, v. 4, n. 5, p. 286-307, 2016.
DOUGLAS, Mary. Pureza e perigo. São Paulo: Perspectiva, 1966.
FUNDAÇÃO NACIONAL DO ÍNDIO (FUNAI). Relatório Geral Sobre Área Indígena Guarani Pai-Kaiowa do Rio Iguatemi – MS. Brasília, 1984. 38p.
GALLOIS, Dominique. O movimento na cosmologia waiãpi: criação, expansão e transformação do universo. Tese (Doutorado em Antropologia) – Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, 1988..
GARCIA, Uirá Felippe. Karawara. A caça e o mundo dos Awá-Guajá. 2010. Tese (Doutorado em Antropologia Social) – Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, 2010.
GENNEP, A. V. Os ritos de passagem. 2. ed. Tradução de Mariano Ferreira. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011
JOÃO, Izaque. Jakaira Reko Nheypyrũ Marangatu Mborahéi: origem e fundamentos do canto ritual jerosy puku entre os Kaiowá de Panambi, Panambizinho e Sucuri’y, Mato Grosso do Sul. 2011. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), Dourados, MS, 2011.
LÉVI-STRAUSS, Claude. Suplício do Papai Noel. São Paulo: Cosac Nayf, 2010.
LOPES, Adelia Flores. O sangue entre as mulheres Guarani e kaiowa em Amambai. 2016. Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura em Ciências Sociais) – Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), Dourados, MS, 2016.
MACEDO, Valeria. Jepota entre os Guarani. Tramas de quereres e corpos. Relatório PT. Redes Ameríndias, 2012.
MELIÀ, Bartomeu; GRÜNBERG, Georg; GRÜNBERG, Friedl. Los Pãi-Tavyterã- Etnografia Guarani del Paraguay contemporáneo. Asunción: Centro de Estudios Antropologicos. Universidad Católica “N. S. de la Asunción”, 1995.
MELO, Clarice Rocha de. Corpos que falam em silêncio - escola, corpo e tempo entre os Guarani. 2008. 146p. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) – Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Florianópolis, SC, 2008.
MONTARDO, Deise Lucy Oliveira. Através do M´baraká: música e xamanismo guarani. 2002. 276p. Tese (Doutorado em Antropologia) – Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, 2002.
MONTOYA, Antonio Ruiz de. Tesoro de la Lengua Guaraní. 1. ed. Apresentação de Bartomeu Meliá. Assunção, Paraguai: CEPAG, 2011.
OVERING, Joanna. O fétido odor da morte e os aromas da vida. Poética dos saberes e processo sensorial entre os Piaroa da Bacia do Orinoco. Revista de Antropologia, São Paulo, v. 49, n. 1, p. 19-54, jan./jun. 2006.
______. Elogio do cotidiano: a confiança e a arte da vida social em uma comunidade amazônica. Revista MANA, v. 5, n. 1, p. 81-107, 1999.
PEREIRA, Levi M. A socialidade da família Kaiowa: relações geracionais e de gênero no microcosmo da vida social. Temáticas. Revista dos pós-graduandos em Ciências Sociais IFCH, Campinas, SP, ano 16, n. 31/32, 2008.
PEREIRA, Levi M. Imagens Kaiowá do sistema social e seu entorno. 2004. 403p. Tese (Doutorado em Antropologia Social) – Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, SP, 2004.
PEREIRA, Levi M. Parentesco e organização social Kaiowá. 1999. 251p. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) – Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Campinas, SP, 1999.
PISSOLATO, Elizabeth. Gênero, casamento e trocas com brancos. In: SACCHI, Angela; GRAMKOW, Marcia (Org.). Gênero em povos indígenas. 1. ed. Rio de Janeiro/Brasília: Museu do Índio, 2012. v. 1, p. 33-52.
SCHADEN, Egon. Aspectos fundamentales de la Cultura Guaraní. Assunción: Universidad Católica, 1998.
SERAGUZA, Lauriene. Cosmos, corpos e mulheres Kaiowa e Guarani. De Aña a Kuña. 2013. 196p. Dissertação (Mestrado em Antropologia) – Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), Dourados, MS, 2013.
SEEGER, A.; DA MATTA, R.; VIVEIROS DE CASTRO, E. B. A Fabricação dos corpos nas sociedades indígenas no Brasil. Boletim do Museu Nacional, Rio de Janeiro, n. 32, maio 1979.
TESTA, Adriana. Caminhos e saberes Guarani-Mbyá: modos de criar, crescer e comunicar. 2014. Tese (Doutorado em Antropologia Social) - PPGAS/Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, 2014.
______. Caminhos de criação e circulação de saberes. Relatório Científico PT. Redes Ameríndias, 2012.
VERA, Kelly Duarte. Conhecimentos, práticas e rituais envolvidos na preparação das meninas guarani e kaiowa para o teko porã. 2017. Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura Intercultural Indígena) – Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), Dourados, MS, 2017.
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. A inconstância da alma selvagem – e outros ensaios de antropologia. São Paulo: Cosac & Naify, 2002.
YANO, A. Tie. Saber-ser: corpo, pessoa e conhecimento entre os Caxinauas. Relatório PT. Redes Ameríndias, 2012.
Downloads
Arquivos adicionais
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Todos os artigos publicados na Revista Tellus estão disponíveis online e para livre acesso dos leitores, tem licença Creative Commons, de atribuição, uso não comercial e compartilhamento pela mesma. Direitos Autorais para artigos publicados nesta revista são do autor, com direitos de primeira publicação para a revista. Em virtude de aparecerem nesta revista de acesso público, os artigos são de uso gratuito, com atribuições próprias, em aplicações educacionais e não-comerciais.