Falar em Patxôhã, cortar língua

Autores

DOI:

https://doi.org/10.20435/tellus.v24i53.1000

Palavras-chave:

caminhadas pataxó, vocabulários, retomadas, empréstimos linguísticos

Resumo

O objetivo deste texto é apresentar o movimento de retomada da língua entre os Pataxó. Compreender como esse é um movimento difuso que demanda caminhadas e conversas com os/as anciãos/ãs e ao mesmo tempo é heterogêneo, os/as pesquisadores/as do Atxôhã (grupo de estudiosos/as pataxó da língua) reconhecem palavras em Patxôhã (língua de guerreiro) entre seus inimigos ancestrais os Botocudo (atuais Krenak) e os seus tradicionais aliados na luta, os Maxakali. Se antes a circulação desses povos na aldeia mãe de Barra Velha (BA) favorecia trocas e empréstimos linguísticos entre uns e outros, tuhutary (atualmente) a retomada da língua na comunidade Gerú Tucunã (Açucena-MG) é atravessada pela tradução de diferentes saberes: a Cartilha de Patxôhã, a Cabaninha do Segredo, os cantores da aldeia e a ação dos línguas de hoje – os/as professores/as de Patxôhã na kijetxawê (escola). Esses diferentes agenciamentos mantêm a língua cortada dos Pataxó longe dos seus possíveis inimigos. Entre os txihi (gente em Patxôhã) de Tucunã cortar língua é cortar a língua do colonizador, recusar o monolinguismo em favor do Patxôhã e da variante regional do português no Leste de Minas.

Biografia do Autor

Antonio Augusto Oliveira Gonçalves, Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG)

Estágio de pós-doutorado pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Doutor em Antropologia Social pela UFG. Mestre em Sociologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Graduado em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) com período sanduíche na Universidade do Porto, Portugal. Professor na Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG). Desenvolve pesquisas na área da etnologia indígena e realizou trabalho de campo junto ao povo pataxó no Vale do Rio Doce.

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Publicado

2025-06-23

Como Citar

Gonçalves, A. A. O. . (2025). Falar em Patxôhã, cortar língua. Tellus, 24(53). https://doi.org/10.20435/tellus.v24i53.1000