Povos indígenas e pesquisa histórica: a importância da história oral indígena e de uma ética em pesquisa específica

Autores

DOI:

https://doi.org/10.20435/tellus.v23i51.893

Palavras-chave:

história indígena, Kaingang, história oral, ética em pesquisa

Resumo

Este texto apresenta o marco teórico-metodológico de uma pesquisa de doutorado (2020) situada no campo da história da educação indígena. Discuto os princípios éticos que adotei e que foram definidos a partir das críticas e proposições de pesquisadores indígenas. Examino o uso da história oral junto aos povos indígenas e suas especificidades. Apresento o método conversacional que estabeleci para as entrevistas realizadas. Explico também por que decidi chamar os participantes da pesquisa de coautores e colaboradores. O texto evidencia a importância do uso da história oral para a realização de pesquisas históricas com povos indígenas e do estabelecimento de uma ética em pesquisa específica para trabalhar com estes povos, tendo como preocupação não apenas destacar a atuação dos indígenas nos processos históricos, mas também situá-los como protagonistas dos processos de pesquisa.

Biografia do Autor

Juliana Schneider Medeiros, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil

Doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Mestra em Educação e Licenciada em História pela UFRGS. Trabalha como professora de História em uma escola indígena da rede estadual do Rio Grande do Sul. Também é colaboradora na Ação Saberes Indígenas na Escolas (MEC), núcleo UFRGS. Participa do Grupo de pesquisa (CNPq/UFRGS) PEABIRU: Educação ameríndia e interculturalidade.

Referências

ASSEMBLY OF FIRST NATIONS. First nations ethics guide on research and aboriginal knowledge. Ottawa: Assembly of First Nations, 2020.

BARBOSA, J. M. A.; MEZACASA, R.; FAGUNDES, M. G. B. A oralidade como fonte para a escrita das Histórias Indígenas. Tellus, Campo Grande, ano 18, n. 37, p. 121-145, set./dez. 2018.

BAUER, W. Oral History. In: ANDERSEN, Chris; O’BRIEN, Jean. Sources and methods in indigenous studies. London; New York: Routledge, 2017. p. 160-68.

BESSARAB, D.; NG’ANDU, B. Yarning about yarning as a legitimate method in Indigenous research. International Journal of Critical Indigenous Studies, Queensland, v. 3, n. 1, p. 37-50, 2010.

BRASIL. Conselho Nacional de Saúde [CNE]. Resolução n. 510, de 07 de abril de 2016. Brasília, DF: CNE, 2016.

BRASIL. Conselho Nacional de Saúde [CNE]. Resolução 466, de 12 de dezembro de 2012. Aprova diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. Brasília, DF: CNE, 2012. Disponível em: http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/2012/Reso466.pdf. Acesso em: 11 dez. 2021.

BRASIL. Conselho Nacional de Saúde [CNE]. Resolução 304, de 9 de agosto de 2000. Aprova normas para pesquisas envolvendo seres humanos – Área de povos indígenas. Brasília, DF: CNE, 2000. Disponível em: http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/2000/Reso304.doc. Acesso em 11 dez. 2021.

BRASIL. Ministério da Sáude. Conselho Nacional de Saúde [CNE]. Resolução n. 196, de 10 de outubro de 1996. O Plenário do Conselho Nacional de Saúde em sua Quinquagésima Nona Reunião Ordinária, realizada nos dias 09 e 10 de outubro de 1996, no uso de suas competências regimentais e atribuições conferidas pela Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, e pela Lei nº 8.142, de 28 de dezembro de 1990, resolve. Brasília, DF: Ministério da Saúde; CNE, 1996.

BRASIL. Fundação Nacional do Índio. Instrução Normativa 01/PRES, de 29 de novembro de 1995. Aprova normas que disciplinam o ingresso em terras indígenas com finalidade de desenvolver pesquisa científica. Brasília, DF: FUNAI, 1995. Disponível em: https://www.gov.br/funai/pt-br/arquivos/conteudo/cogedi/pdf/legislacao-indigenista/pesquisa/001-instrucao-normativa-1995-funai.pdf. Acesso em: 11 dez. 2021.

CALLIOU, B. Methodology for recording oral histories in the aboriginal community. Native Studies Review, [s.l.], v. 15, n. 1, p. 73-105, 2004.

CAVALCANTE, T. L. V. História Indígena no Brasil: historiografia, crítica decolonial e perspectivas contemporâneas. 2019. (Relatório de estágio de Pós-Doutorado) - Programa de Pós-Graduação em História, Universidade Estadual de Maringá, 2019.

CANADIAN INSTITUTES OF HEALTH RESEARCH [CIHR]; NATURAL SCIENCES AND ENGINEERING RESEARCH COUNCIL OF CANADA [NSERC]; SOCIAL SCIENCES AND HUMANITIES RESEARCH COUNCIL OF CANADA [SSHRC]. Tri-Council Policy Statement: ethical conduct for research involving humans. Ottawa: Government of Canada; CIHR; NSERC; SSHRC, 2010.

CRUIKSHANK, J. Oral history, narrative strategy and Native American historiography. In: SHOEMAKER, N. Clearing a path: theorizing the past in native american historiography. New York: Routledge, 2002, p. 3-27.

CRUIKSHANK, J. The social life of texts: editing on the page and in performance. In: MURRAY, L. J.; RICE, K. D. Talking on the page: editing aboriginal oral texts. Toronto: University of Toronto Press, 1999. p. 97-119.

CRUIKSHANK, J. Life lived like a story: life stories of threee Yukon elders. Lincoln: Nebraska Press; Vancouver: Columbia Press, 1990.

GOOD, F. Voice, ear and text: words and meaning. In: PERKS, R.; THOMPSON, A. The oral history reader. 2. ed. New York: Routledge, 1998. p. 363-73.

INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL [ISA]. Kaingang. Povos Indígenas no Brasil - ISA, São Paulo, 2014. Disponível em: https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Kaingang. Acesso em: 19 nov. 2021.

JIMENES, A.; SILVEIRA, M. C. B. Domesticando a cidade: ser ticuna na Manaus contemporânea (1980-2014). História Oral, [s.l.], v. 18, n. 1, p. 147-67, 2015.

KEESHING-TOBIAS, L. Stop stealing native stories. In: ZIFF, B.; RAO, P. V. Borrowed power: essays on cultural appropriation. New Jersey: Rutgers, 1997. P. 71-3.

KOPENAWA, D.; ALBERT, B. A queda do céu: palavras de um xamã yanomami. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

KOVACH, M. Conversational method in Indigenous research. First Peoples Child & Family Review, [s.l.], v. 5, n. 1, p. 40-8, 2010.

LOUIS, R. P. Can you hear us now? Voices from the margin: using indigenous methodologies in Geographic Research. Geographical Research, [s.l.], v. 45, n. 2, p. 130-39, jun. 2007.

MEDEIROS, J. S. et al. A escola do SPI entre os Kaingang. Porto Alegre: CirKula, 2021.

MICHELL, H. Pakitinasowin: the protocol of offering tobacco in Woodland cree contexts: Nihithawatisiwin and the ethic of reciprocity in first nations research, 2011. [Não publicado].

MONTEIRO, J. M. Armas e armadilhas: história e resistência dos índios. In: NOVAES, A. (Org.) A outra margem do Ocidente. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. p. 237-56.

NARAYAN, K. How Native is a “Native” anthropologist? American Anthropologist, [s.l.], New Series, v. 95, n. 3, p. 671-86, sep. 1993.

ORAL HISTORY ASSOCIATION. Archiving oral history: manual of best practices. Oral History Association, Baltimore, 2019. Disponível em: https://www.oralhistory.org/archives-principles-and-best-practices-complete-manual. Acesso em: 24 mar. 2021.

PORTELLI, A. What makes oral history different? In: PORTELLI, A. The death of Luigi Trasulli and other stories: form and meaning in oral history. New York: The State University of New York Press, 1991, p. 45-58.

ROCHA, A. S. “Pro giro do Sul”: indígenas Xukuru-Kariri trabalhando na lavoura canavieira em Alagoas (1952-1990). História Oral, [s.l.], v. 23, n. 2, p. 91-111, 2020.

SILVA, E. Os indígenas Xukuru do Ororubá e as formas de trabalho: de agricultores a operários e produtores orgânicos (Pesqueira e Poção/PE). História Oral, [s.l.], v. 23 n. 2, p. 297-317, 2020.

SILVA, G. J. Diversidade étnica e fontes orais em fronteiras: vivências e narrativas Camba-Chiquitano entre Brasil e Bolívia. História Oral, [s.l.], v. 16, n. 1, p. 23-49, 2013.

SMITH, L. T. On tricky ground: researching the native in the age of uncertainty. In: DENZIN, N. K.; LINCOLN, Y. S. (Org.). The landscape of qualitative research. Thousand Oaks: Sage Publications, 2008. p. 113-43.

SOUCY, A. The problem with key informants. Anthropological Forum, [s.l.], v. 10, n. 2, p. 179-99, 2000.

SOUZA, J. O. C.; MORINICO, C. P. Fantasmas das brenhas ressurgem nas ruínas: mbyá-guaranis relatam sua versão sobre as Missões e depois delas. In: KERN, A.; SANTOS, M. C.; GOLIN, T. (Org.). Povos Indígenas. [volume 5]. [Coleção História Geral do Rio Grande do Sul]. Passo Fundo: Méritos, 2009.

STEVENSON, W. Narrative wisps of the Ochekwi Sipi past: a journey in recovering collective memories. Oral History Forum, [s.l.], v. 19-20, p. 113-25, 1999-2000.

THOMSON, A. Memory and remembering in oral history. In: RITCHIE, D. A. Oxford handbook of oral history. New York: Oxford University Press, 2011. p. 77-95.

WHEELER, W. Cree intellectual traditions in history. In: FINKLE, A.; CARTER, S.; FORTNA, P. The West and beyond: new pespectives on an imagined region. Edmonton: Athabasca University Press, 2010.

WHEELER, W. Reflections on the social relations of indigenous oral history. In: MCNAB, D. T. Walking a tightrope: aboriginal people and their representations. Waterloo: Wilfred Laurier Press, 2005. p. 189-214.

WILSON, A. C. Grandmother to Granddaughter: Generations of oral history in a Dakota family. American Indian Quarterly, [s.l.], v. 20, n. 1, p. 7-13, 1996.

WILSON, S. Research is Ceremony: indigenous research methods. Halifax; Winnipeg: Fernwood Publishing, 2008.

WHITE, E.; ARCHIBALD, J. Kwulasulwut S yuth [Ellen White's Teachings]. Canadian Journal of Native Education, [s.l.], v. 19, n. 2, p. 150-64, 1992.

Downloads

Publicado

2023-11-17

Como Citar

Medeiros, J. S. . (2023). Povos indígenas e pesquisa histórica: a importância da história oral indígena e de uma ética em pesquisa específica. Tellus, 23(51), 131–159. https://doi.org/10.20435/tellus.v23i51.893