Laudinhos antropológicos: As crianças indígenas e os processos de demarcação de terra
DOI:
https://doi.org/10.20435/tellus.v18i35.490Palabras clave:
crianças indígenas, produção de conhecimento, laudos antropológicos.Resumen
Este artigo defende a importância da participação das crianças indígenas nos processos de demarcação de terra a partir de uma reflexão sobre a produção de conhecimento pelas crianças indígenas Tentehar-Guajajara. Por meio de uma análise dos processos de produção dos saberes construídos pelas crianças através da sua interação com o ambiente físico e a cultura a que pertencem, pretendo argumentar em favor do reconhecimento das crianças como importantes sujeitos nos processos de demarcação de terra, pelo fato de estas não estarem ausentes desses processos, serem claramente afetadas por eles, serem sujeitos interessados e possuírem vínculos com a terra e representações diversas desta. Ademais, as pesquisas desenvolvidas entre crianças indígenas demonstram que elas têm opiniões próprias sobre o processo, uma relação particular com a terra, estão atentas às demandas da comunidade e produzem conhecimento entre si e junto aos adultos, além de compartilhar os demais sinais diacríticos da cultura na qual estão inseridas. Além do mais, serão elas as herdeiras de todo o legado. Por essa razão, as crianças se constituem como importantes sujeitos para os laudos antropológicos. Este artigo parte de um diálogo com as discussões atuais sobre teorias do conhecimento (BARTH, 1995; 2000; CARNEIRO DA CUNHA, 2009; COHEN, 2010; INGOLD, 2000; LASMAR, 2009) considerando os contextos diversos na produção do conhecimento (TASSINARI, 2001; COHN, 2002) e as pesquisas realizadas por mim entre as crianças indígenas Tentehar-Guajajara do Maranhão, Brasil.Citas
ALBERT, Bruce. O ouro canibal e a queda do céu: uma crítica xamânica da economia política da natureza. In: ALBERT, B.; Ramos, A. R. Pacificando o branco. Cosmologias do contato no Norte Amazônico. São Paulo: Editora da UNESP, 2002.
ALVARES, Myriam. Kitoko Maxakali: a criança indígena e os processos de formação,
aprendizagem e escolarização. Revista Anthropológicas, Recife, n. 15, v. 1, p. 49-78, 2004.
BARTH, Fredrik. O guru, o iniciador e outras variações antropológicas. Tomke Lask (Org.). Rio de Janeiro: Contracapa, 2000.
______. Other knowledge and other ways of knowing. Journal of Anthropological Research, v. 51, n. 1, p. 65-8, 1995
______. Cosmologies in the making. Cambridge: Cambridge University Press, 1987.
______. Ritual and Knowledge among the Baktaman of New Guinea. New Haven: Yale University Press, 1975.
BATESON, Gregory. Steps to an ecology of mind: collected essays in anthropology, psychiatry, evolution and epistemology. Londres: Jason Aronson Inc., 1972.
CARNEIRO DA CUNHA, Manuela. “Cultura” e cultura: conhecimentos tradicionais e direitos intelectuais. In: ______. Cultura com aspas e outros ensaios. São Paulo: Cosac Naify, 2009.
CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano: artes de fazer. 11. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994.
CODONHO, Camila. Entre brincadeiras e hostilidades: percepção, construção e vivência das regras de organização social entre as crianças indígenas Galibi-Marworno. Tellus, Campo Grande, MS, ano 9, n. 17, p. 137-61, jul./dez. 2009.
COHEN, Emma. Anthropology of knowledge. Journal of the Royal Anthropological Institute, v. 16, n. 1, p. 193-202, 2010.
COHN, Clarice. Antropologia da criança. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005. (Coleção Passo a Passo; 57).
______. A criança, o aprendizado e a socialização na antropologia. In: SILVA, A. L. da; NUNES, A.; MACEDO A. V. L. da S. Crianças indígenas: ensaios antropológicos. São Paulo: Global, 2002.
______. A criança indígena: a concepção Xikrin de infância e aprendizado. 2000. Dissertação (Mestrado em Antropologia) – Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, 2000.
GEERTZ, Clifford. O saber local: novos ensaios em antropologia interpretativa. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.
HIRSCHFELD, Lawrence. Why don’t anthropologists like children? American Anthropologist, v. 104, n. 2, p. 611-27, 2002.
INGOLD, Tim. Culture, nature, environment: steps to an ecology of life. In: ______. The perception of the environment: essays on livelihood, dwelling and skill. London: Routledge, 2000. p. 13-26/420-421.
LASMAR, Cristiane. Conhecer para transformar: os índios do rio Uaupés (Alto Rio Negro) e a educação escolar. Tellus, Campo Grande, MS, ano 9, n. 16, p. 11-33, jan./jun. 2009.
LEITE, Ilka Boaventura (Org.). Laudos periciais antropológicos em debate. Florianópolis: NUER/ABA, 2005.
LOPES DA SILVA, A; NUNES, A.; MACEDO, A. V. L. S. Crianças indígenas: ensaios antropológicos. São Paulo: Global, 2002. (Coleção Antropologia e Educação).
MAUSS, Marcel. Sociologia e Antropologia. Tradução de Mauro W. B. de Almeida. São Paulo: Editora Pedagógica e Universitária; Editora da Universidade de São Paulo, 1969. Volume 2.
MELLO, Flávia. Ciclo de Discussão sobre experiências e pesquisas a respeito da educação e infância indígena. Projeto Educação e Infância Indígenas, NEPI/UFSC. Florianópolis, 2006.
MIRANDA, Sarah. Aprendendo a ser Pataxó: um olhar etnográfico sobre as habilidades produtivas das crianças de Coroa Vermelha, Bahia. 2009. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) – Universidade Federal da Bahia (UFBA), Salvador, 2009.
RIBEIRO, Darcy. Diários índios: os Urubus-Kaapor. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
SOUSA, Emilene Leite de. Infância e pobreza. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE SOCIOLOGIA, 13. Anais... Recife: UFPE, 2007.
TASSINARI, Antonella Maria Imperatriz. Múltiplas infâncias: o que a criança indígena pode ensinar para quem já foi à escola ou A Sociedade contra a Escola. In: ENCONTRO DA ANPOCS, 33. Anais... Caxambu, 2009.
______. Concepções indígenas de infância no Brasil. Tellus, Campo Grande, MS, ano 7, n. 13, p. 11-25, out. 2007.
______. Escola Indígena: novos horizontes teóricos, novas fronteiras de educação. In: SILVA, A. L.; FERREIRA, M. K. L. (Org.). Antropologia, história e educação: a questão indígena e a escola. 2. ed. São Paulo: Global, 2001.
TASSINARI, Antonella; COHN, Clarice. ‘Opening to the other’: schooling among the Karipuna and Mebengokré-Xikrin of Brazil. Anthropology & Education Quarterly, v. 40, n. 2, p. 150-69, jun. 2009.
VASCONCELOS, Viviane C. C. Tramando redes: parentesco e circulação de crianças Guarani no litoral de Santa Catarina. 2011. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) - Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis, 2011.
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. Os pronomes cosmológicos e o perspectivismo ameríndio. Mana, Rio de Janeiro, v. 2, n. 2, p. 115-43, 2006.
______. Perspectivismo e multinaturalismo na américa indígena. In: ______. A inconstância da alma selvagem. São Paulo: Cosac & Naify, 2002.
WAGNER, Roy. A invenção da cultura. São Paulo: Cosac & Naify, 2010.
Descargas
Publicado
Cómo citar
Número
Sección
Licencia
Todos os artigos publicados na Revista Tellus estão disponíveis online e para livre acesso dos leitores, tem licença Creative Commons, de atribuição, uso não comercial e compartilhamento pela mesma. Direitos Autorais para artigos publicados nesta revista são do autor, com direitos de primeira publicação para a revista. Em virtude de aparecerem nesta revista de acesso público, os artigos são de uso gratuito, com atribuições próprias, em aplicações educacionais e não-comerciais.