Relações de gênero entre os Enawene-Nawe
DOI:
https://doi.org/10.20435/tellus.v0i1.4Resumo
Com o avanço da pesquisa etnográfica nas sociedades amazônicas duranteos últimos trinta anos, emergiram duas versões antagônicas das relações de gênerocomo características desses sistemas sociais. A primeira, centrada na distinçãoestrutural-funcionalista entre público e privado, definiu estas relações em termos deum englobamento do masculino sobre o feminino, em perpétuo desequilíbrio. Enquantoo termo masculino foi associado à esfera político-jurídica e pública, o termo femininoremetia ao mundo doméstico e privado dessas formações sociais. A segunda, centradana crítica feminista da distinção público/privado procurou, ao contrário, demonstraro equilíbrio e a complementaridade entre homem e mulher nessas mesmas sociedades.Neste quadro geral, o debate confrontou duas concepções irredutíveis da relaçãomasculino/feminino nessas formações sociais, assimétrica para uns e simétrica paraoutros. Baseado na descrição de uma classificação nativa do gênero e da sexualidadeempregada pelos Enawene-Nawe, defendo um ponto de vista oposto a ambas asconcepções dominantes. Minha posição é de que em sistemas como esse, a oposiçãomasculino/feminino deve ser entendida nos horizontes do imperativo da troca (Mauss/Lévi-Strauss) ou, em outras palavras, nos termos de uma interpretação estrutural dasrelações de parentesco (consangüinidade/afinidade). Neste quadro, gênero esexualidade são diretamente concebidos como relações entre relações (isto é, como umsistema de signos) e não como relações entre termos substantivos.Referências
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