Relações de gênero entre os Enawene-Nawe
DOI:
https://doi.org/10.20435/tellus.v0i1.4Abstract
Com o avanço da pesquisa etnográfica nas sociedades amazônicas duranteos últimos trinta anos, emergiram duas versões antagônicas das relações de gênerocomo características desses sistemas sociais. A primeira, centrada na distinçãoestrutural-funcionalista entre público e privado, definiu estas relações em termos deum englobamento do masculino sobre o feminino, em perpétuo desequilíbrio. Enquantoo termo masculino foi associado à esfera político-jurídica e pública, o termo femininoremetia ao mundo doméstico e privado dessas formações sociais. A segunda, centradana crítica feminista da distinção público/privado procurou, ao contrário, demonstraro equilíbrio e a complementaridade entre homem e mulher nessas mesmas sociedades.Neste quadro geral, o debate confrontou duas concepções irredutíveis da relaçãomasculino/feminino nessas formações sociais, assimétrica para uns e simétrica paraoutros. Baseado na descrição de uma classificação nativa do gênero e da sexualidadeempregada pelos Enawene-Nawe, defendo um ponto de vista oposto a ambas asconcepções dominantes. Minha posição é de que em sistemas como esse, a oposiçãomasculino/feminino deve ser entendida nos horizontes do imperativo da troca (Mauss/Lévi-Strauss) ou, em outras palavras, nos termos de uma interpretação estrutural dasrelações de parentesco (consangüinidade/afinidade). Neste quadro, gênero esexualidade são diretamente concebidos como relações entre relações (isto é, como umsistema de signos) e não como relações entre termos substantivos.References
ALENCAR SÁ, Cleacir. As fases da vida: categorias de idade enawene (ru) nawe. Cuiabá: OPAN - Operação Amazônia Nativa, 1996.
DUMONT, Louis. Introduction à deux théories d’anthropologie sociale. Mouton, 1971.
GRANERO, F. S. The Power of Love: The Moral Use of Knowledge
amongst the Amuesha of Central Peru. Athlone, 1991.
HÉRITIER, Françoise. L’Exercice de la Parenté. Gallimard/Le Seuil,
LÉVI-STRAUSS, Claude [1949]. Les Structures Élémentaires de la
Parenté. Mouton, 1967.
OVERING, Joanna. Wandering in the market and the forest: an
Amazonian theory of production and exchange. In: Contesting Markets, R. Dilley. Univ. Edinburgh Press, 1992.
RIVIÈRE, Peter. Individual and Society. In: Guiana: a comparative study of amerindian social organization. Cambridge Univ. Press, 1984. (Introd. e Caps. IV-VII).
RODRIGUES, Patricia de Mendonça. Alguns aspectos da construção do gênero entre os Javaé da ilha do Bananal. In: Cadernos Pagu, n. 5, PAGU, Núcleo de Estudos de Gênero/UNICAMP, p.131-146, 1995.
SILVA, Marcio. Tempo e espaço entre os Enawene-Nawe. Revista de
Antropologia, vol. 42, n. 2, 1998.
TURNER, Terence. The Gê and Bororo societies as dialectical systems: a general model. In: Dialectical Societies: The Gê and Bororo of Central Brazil. D. Maybury-Lewis. Harvard Univ. Press, 1979.
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. Araweté: os deuses canibais. Rio
de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1986.
______. Princípios e parâmetros: um comentário a L’Exercice de la
Parenté. Comunicação do PPGAS, v. 17, 1990.
______. Alguns aspectos da afinidade no dravidianato amazônico. In: Viveiros de Castro, E.; Carneiro da Cunha, M. (orgs.). Amazônia:
etnologia e história indigena. São Paulo: EDUSP/NHII, 1993.
Downloads
Published
How to Cite
Issue
Section
License
Todos os artigos publicados na Revista Tellus estão disponíveis online e para livre acesso dos leitores, tem licença Creative Commons, de atribuição, uso não comercial e compartilhamento pela mesma. Direitos Autorais para artigos publicados nesta revista são do autor, com direitos de primeira publicação para a revista. Em virtude de aparecerem nesta revista de acesso público, os artigos são de uso gratuito, com atribuições próprias, em aplicações educacionais e não-comerciais.